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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A coisificação da pregação


Paul Tillich, renomado teólogo do século XX, estabeleceu a diferença entre razão técnica e razão profunda. Razão técnica é razão de superfície; razão profunda é a expressão do fundamento, a base que deve nutrir o raciocínio; o “logos” que dá vida à lógica.

A fala de superfície deve ser apenas meio para veicular a experiência de profundidade. A relação com o “Verbo” no lugar “secreto” precede o verbo dito no lugar público. Do contrário, a pregação se transforma em mera verborréia que informa, mas não forma; que encanta os ouvidos, mas não dobra o coração.

O orador de superfície provoca a admiração dos ouvintes. O pregador que mergulha no “mistério” provoca os ouvintes. O primeiro, suscita na audiência a expressão: “Que grande pregador ele é!” O segundo, provoca no ouvinte: “Que grande pecador eu sou!”

Mas, o púlpito é apenas o reflexo e a boca do ministério pastoral como um todo.

A coisificação do ministério pastoral.

O trabalho pastoral vem perdendo a dimensão do Espírito (Jo. 4:24) e se coisificando. Muitos pastores agem, prioritariamente, como executivos, falam como palestrantes motivacionais, atuam como “coaches” de desempenho, pressionam por resultados, competem por território e procuram agressivamente fazer de sua imagem pessoal uma logomarca.

Um pastor é essencialmente um pastor, não um executivo. Se ele tiver habilidades gerenciais, tanto melhor, mas se tais habilidades ganharem maior valor que sua capacidade de mergulhar nos mistérios de Deus e traduzí-lo para seu rebanho, terá falhado miseravelmente como pastor, ainda que tenha sucesso como executivo.

Não tenho nenhuma dúvida de que a igreja de Cristo precisa de pastores que sejam bons gestores de ministérios. Isto produz saúde organizacional. Mas, a igreja de Cristo necessita, com muito mais urgência, de pastores-pregadores que sejam habilidosos gestores dos mistérios de Deus. Isto trans-forma a igreja-organização, em igreja-organismo.

             Josias Bezerra

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